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Alagados da zona leste de SP lutam contra remoções e exigem novas moradias

29 de abril de 2010
Escrito por Gabriel Brito, da Redação   – CORREIO DA CIDADANIA
29-Abr-2010
 

Um dos principais assuntos do verão paulistano desta temporada foi o constante alagamento da região do Jardim Pantanal, extremo leste da cidade de São Paulo. Abandonados por políticas públicas, os moradores foram vítimas de mais um capítulo das remoções forçadas, nova praxe das metrópoles nacionais, com o objetivo de se limpar a área para a construção do Parque Linear do Tietê.

 Após a repercussão momentânea do assunto, a rotina desses paulistanos não mudou. Continuam vivendo em ruas e casas alagadas, sofrendo com a truculência dos órgãos públicos. Em entrevista ao Correio da Cidadania, o integrante do movimento Terra Livre Marzeni Pereira nos conta como se deu a ocupação de um terreno da Vila Curuçá por ex-moradores do Pantanal, desesperados por novas e dignas moradias.

 Na conversa, Marzeni nos fala sobre convicção que esses cidadãos têm em relação à má fé do poder público em sua atuação na área, sem oferecer moradias e sem cumprir com o famigerado bolsa-aluguel. Ele, que também é professor de Geopolítica e Cidadania de um cursinho oferecido aos habitantes da região, lista as exigências das famílias vitimadas pela chuva e pela falta de planejamento urbano reinante na cidade. De quebra, lamenta que as eleições deste ano não ofereçam perspectivas de políticas efetivas para a solução de mais este drama social.

 A entrevista completa pode ser conferida a seguir.

Correio da Cidadania: Os moradores da Vila Curuçá são os mesmos atingidos pelos alagamentos da várzea do Tietê, correto? Como essas famílias se organizaram para ocupar o terreno?

 Marzeni Pereira: São os mesmos, sim. São cerca de 100 famílias e todas da região.

 Há um movimento local, o MULP (Movimento Urbano pela Legalização do Pantanal), que foi procurado pelas famílias no sentido de se encontrar uma saída para a situação, pois a prefeitura não providenciava nada e não oferecia alternativa.

 O objetivo dessas famílias é conseguir uma moradia, o que não é possível com o bolsa-aluguel, até porque muitos dos cheques dados voltaram. Além disso, outras perderam a casa sem indenização e a ocupação acabou sendo a alternativa.

 CC: Depois da alta repercussão à época das chuvas, como ficou a rotina desses moradores, inclusive os que permaneceram? Persistem os alagamentos?

 MP: Sim, continuam, já que o rio está assoreado e a água não desce. Agora o rio fica cheio quase que o tempo todo, qualquer chuva já faz a água voltar às casas das pessoas. Portanto, continua um drama.

 Tem casa que está com água desde dezembro. Hoje não é a mesma coisa daquele mês, mas várias moradias continuam com água dentro.

 CC: A prefeitura garantiu ações após a reunião que fez com esses moradores em 12 de fevereiro? Houve outros encontros?

 MP: Não. Na verdade, ela só propõe uma alternativa, o bolsa-aluguel, de 300 reais por mês. Porém, esse valor é totalmente insuficiente, ninguém consegue aluguel a esse preço em São Paulo. E derrubaram as casas das pessoas que aceitaram o cheque sem que elas recebessem indenização.

 Depois daquele encontro de 12/02 não tivemos nenhum outro, já que o prefeito não fala com a gente.

 CC: E houve ajuda de órgãos oficiais, como a Defesa Civil, no sentido de auxiliar os moradores a lidarem com as chuvas e resolver um pouco de seus problemas naqueles bairros?

 MP: A Defesa Civil só vem ajudar a arrancar as pessoas da casa. O chefe da Defesa Civil sempre está nas ações de remoção. Eles não vêm para amenizar a dor das pessoas, vêm apenas para expulsá-las.

 CC: Acredita que, com a construção do Parque Linear do Tietê, os governos permitirão a continuidade de moradias perto dali ou se confirmará a higienização social, a fim de favorecer a especulação imobiliária através da valorização da área?

 MP: No local onde farão o parque, não se podem construir residências. Mas percebemos que, no limite, no entorno do parque, existem muitas indústrias e empresas dos aparelhos governamentais. E elas vão permanecer, só sairão as atuais residências.

 Por enquanto, a idéia da higienização é só um prognóstico. Mas sabemos que a região fica perto do Aeroporto de Cumbica e há o interesse em se fazer algum projeto por aqui. Ainda não temos certeza, mas poderia ser algo como uma Vila Olímpica, para abrigar turistas ou delegações que venham à Copa do Mundo, por exemplo.

 CC: Que exigências fazem os moradores da Vila Curuçá? A prefeitura está negociando?

 MP: Tem uma lista boa de exigências, mas existem cinco que são mais primordiais.

 A primeira é o fim das remoções forçadas. A prefeitura não pode forçar a derrubada das casas. Nós achamos que o governo tem o direito de projetar um parque desses, mas antes deve dar uma destinação correta às famílias que moram lá. Já derrubaram 3000 casas, sem conceder o bolsa-aluguel e novas moradias na mesma proporção. Sendo assim, o primeiro ponto é o fim imediato das ações de derrubada.

 O segundo é o fim do terrorismo e do desrespeito aos direitos humanos dos moradores em ações nas áreas inundadas. Eles chegam lá sem qualquer mandado judicial dizendo para as pessoas que vão derrubar as casas e derrubam mesmo. Às vezes a pessoa sai de casa e, quando volta do trabalho, a casa está no chão. Em outros casos, a pessoa volta pra casa e seus móveis estão colocados na frente de outra casa.

 Exigimos também a construção sem custos de moradias para abrigar as famílias atingidas. Ou seja, trocar a casa da qual a pessoa foi removida por outra. Isso porque a prefeitura fala que vai construir novos apartamentos para as pessoas afetadas, mas irá vendê-los ao invés de concedê-los em troca da casa derrubada. E as famílias que já tinham sua casa querem outra em troca sem ter de comprar nada. O terreno da Vila Curuçá, declarado zona de interesse social e local onde a prefeitura pretendia construir apartamentos para essas famílias, é um desses casos em que a prefeitura quer vender as casas para as pessoas, que ainda ficariam sem indenização.

 O quarto ponto é exatamente o da indenização, no caso em relação aos prejuízos causados pelas chuvas e enchentes do verão. Tanto morais como materiais. Morreram pessoas, centenas adoeceram… Ficou uma seqüela muito grande disso tudo, principalmente nas crianças. E tudo se deve à ação governamental, que comprovadamente fechou as comportas no dia 8 e só as reabriu no dia 10, além de ter permitido a abertura da barragem. O governo poderia abrir a barragem? Sim, poderia, mas com planejamento. E mesmo que não houvesse qualquer possibilidade de evitar a inundação, era obrigação ter um planejamento preventivo, um plano de evacuação, além de também avisar as pessoas para que deixassem as áreas antes do pior.

 Outra exigência é um plano habitacional. Não só nessa região como também em outras, em áreas de risco, de encostas… É da responsabilidade do governo fiscalizar as áreas que não devem ser ocupadas, e o governo foi omisso em exercer tal papel. Quem tem todo o conhecimento e mapeamento das áreas de risco não é a população, e sim as instâncias governamentais. Obviamente, as chuvas realmente foram problemáticas, mas não havia políticas de habitação, prevenção, evacuação de áreas… Portanto, todos esses pontos somados fazem do governo o grande culpado.

 O quinto ponto se refere à ocupação do terreno. As famílias da vila Curuçá, acampamento que deve se chamar ‘Ocupação Alagados do Pantanal’, têm o entendimento de que o governo age de má fé, pois não indeniza as famílias pelas moradias derrubadas. Como dito, os apartamentos a serem construídos serão vendidos, e não entregues em troca da casa que as famílias perderam. E as famílias também reivindicam linha de crédito para que possam tocar as construções das casas por conta própria.

 CC: Essas famílias que ocuparam o terreno da Vila Curuçá já sofreram algum tipo de repressão dos órgãos públicos?

 MP: Já. A área foi ocupada entre o sábado, 17, e o domingo, 18, por volta de meia noite, e no dia seguinte a polícia apareceu por volta de meio-dia. Não fizeram nada nessa primeira ocasião, apenas perguntaram quem eram as lideranças e foram embora. Respondemos que não há lideranças, e sim comissões, que tomam decisões em assembléias.

 Na segunda-feira, foram aparecendo três, quatro, cinco viaturas, e ficaram lá, não permitindo a entrada de materiais, como madeira e outros que serviriam para as barracas. De quinta para sexta, não deixaram entrar nem água e nem comida. Nessa hora, o deputado Raul Marcelo ligou para o coronel da área, que deu uma relaxada nas ações e disse não se tratar de orientação sua. A partir disso, aliviou a situação.

 Uma coisa interessante que o movimento fez foi uma carta aos moradores do entorno, explicando o que acontecia e quem eram, de modo a tranqüilizar essa vizinhança. E o apoio foi muito grande, várias das famílias que moram por ali se solidarizaram e prestaram apoio aos moradores da ocupação.

 CC: Outros moradores da várzea do Tietê estão se organizando para a mesma ação de ocupar terrenos livres?

 MP: Houve uma outra ocupação em Suzano, não sei o local exato, mas foi mais desorganizada. Mas de fato eram moradores do Jardim Pantanal também, e ocorreu alguns dias antes da Vila Curuçá.

 Não há novas ocupações agendadas, mas depende da ação do governo. Se não houver nenhuma ação para minimizar os problemas da região, obviamente vai acontecer alguma coisa. É natural, o ser humano vai procurar saída para viver um pouco melhor.

 CC: Como avalia a política habitacional dos governos municipal e estadual?

 MP: Não existe! O que existe é somente propaganda. Qual é a política desses caras? São milhões de famílias sem moradia e qual a política de habitação deles? Há alguns apartamentos da CDHU, alguma coisa nas Cohabs, mas numa quantidade muito insuficiente, não cobre nada da demanda. É uma política que existe só pra fazer propaganda.

Na realidade, não são políticas que visam cobrir a real necessidade. Servem apenas para dizer em propaganda que existem.

CC: Quais as perspectivas dos moradores da região do Pantanal e também das organizações de luta pela terra com este ano eleitoral?

MP: Bom, vai ter muita promessa. Os dois projetos que se apresentam com chances de ganhar são a mesma coisa. Têm maneiras diferentes de agir, mas no final das contas é o mesmo projeto e serão aplicadas as mesmas políticas. Tanto Serra quanto Dilma têm o mesmo projeto, de garantir que uma mesma elite continue ganhando muita grana, com o mesmo modelo de sociedade, de política, de economia de mercado.

De fato, existem diferenças no trato, mas no fim dá no mesmo. O Serra tem uma política de confronto, de ir pra cima, jogar a polícia e criminalizar diretamente os movimentos sociais. Já o governo Lula-Dilma tem uma política mais de cooptação das lideranças dos movimentos. Mas praticam criminalização dos movimentos também, com o judiciário tratando-os como quadrilhas, com as multas aos sindicatos, com a perseguição ao MST… São a mesma coisa.

Leia mais:

‘Em SP, você tem que se afogar e ficar calado. Se protestar, apanha da polícia’

Gabriel Brito é jornalista.

Nota da ENECOS em apoio a ocupação na Zona Leste de São Paulo

29 de abril de 2010

Nota da ENECOSSão Paulo, 28 de abril de 2010
A Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social – ENECOS, vem declarar o seu apoio as famílias do movimento Terra Livre que ocupam um terreno na Vila Curuçá, zona leste da cidade de São Paulo. Os motivos que levam a população a ocupar esse terreno é de inteira responsabilidade do Governo do Estado e da Prefeitura da Capital, que criminosamente causaram o fechamento das barragens que levaram a inundação dos bairros da região do Jardim Pantanal e Jardim Romano. Enquanto as obras de ampliação das pistas da marginal Tietê foram preservadas da chuva, centenas de famílias viraram o ano com a destruição de seus pertences. Diferentemente do que a grande imprensa, em conluio com os governos tucanos, tentam impor a opinião pública, as ocupações de áreas de várzea são causados pela especulação imobiliária. Os interesses das construtoras, imobiliárias e incorporadoras ao longo das ultimas décadas obrigaram centenas de trabalhadores da região metropolitana a irem morar nas periferias, várzeas e áreas de mananciais, enquanto centenas de edifícios da região central se encontram abandonados, criando verdadeiros latifúndios urbanos improdutivos.

A ENECOS se solidariza aos moradores alagados do Pantanal e de todas as áreas ocupadas de todo o Brasil, seja no campo ou na cidade.

Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social – ENECOS
www.enecos.org.br
Gestão Aos Que Virão

[SP] Alagados do Pantanal: 1º de Maio é dia de Ato na Ocupação

27 de abril de 2010

1º de MAIO às 16 horas

ATO EM APOIO À OCUPAÇÃO ALAGADOS DO PANTANAL

No dia 1° de maio, dia do trabalhador, haverá um grande Ato Público em Apoio à Ocupação “Alagados do Pantanal”, realizada há mais de uma semana por famílias organizadas no movimento Terra Livre. O ato terá início às 16 horas no próprio acampamento e terá a participação de militantes, entidades, movimentos e intelectuais. Convidamos a todos, neste dia do trabalhador, protestar contra os ataques do governo e celebrar a unidade dos trabalhadores.

Moção de apoio: DCE UEPG

27 de abril de 2010

Por Diretório Central de Estudantes da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Moção de apoio as famílias que ocuparam o terreno na Zona Leste de São Paulo

 
No dia 18 de abril de 2010, cerca de 100 famílias, vítimas das enchentes ocorridas no Jardim Pantanal, Zona Leste da capital paulista, ocuparam um terreno na Vila Curuçá, Zona Leste da capital de São Paulo.
 
Enchentes que foram agravadas por ordem do governo Serra, que mandou fechar as comportas da barragem da Penha, inundando propositalmente toda a região para forçar a saída das famílias, tudo isso para construir o Parque Linear Várzeas do Tietê.
 
Desde 19 de abril de 2010 os governos de Serra e Kassab enviaram a polícia para reprimir as famílias, tratando-as com total desrespeito e violência, inclusive impedindo a entrada de alimentos. Essas famílias perderam suas casas, e ainda são tratadas como criminosas!
 
Nós, estudantes e membros do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Estadual de Ponta Grossa – Paraná, viemos através desta moção, mostrar nosso incondicional apoio a ocupação e as famílias vítimas das enchentes, dos governos Serra e Kassab.
 
Exigimos dos governos, federal, estadual, e municipal a garantia da integridade física das famílias da ocupação, bem como uma política pública que garanta uma reforma urbana que atenda as necessidades de toda a população.
 
Ponta Grossa, 26 de abril de 2010.
Diretório Central dos Estudantes da UEPG

Moção de apoio: FEMEH

27 de abril de 2010

Moção da FEMEH ao movimento Terra Livre
 
A FEMEH (Federação do Movimento Estudantil de História) coloca o seu total apoio à ocupação realizada pelo movimento Terra Livre, em um terreno da Vila Curuçá, Zona Leste de São Paulo, junto a cerca de 100 famílias vitimas das enchentes de dezembro de 2009 e janeiro de 2010, causadas pelo fechamento das comportas da Barragem da Penha e a abertura da barragem do Alto Tietê. A FEMEH está ao lado dos movimentos da cidade e do campo em nome da justiça social e , sendo assim, repudia as ações criminosas que a prefeitura de São Paulo tem aplicado nessa região da cidade, desde de abertura e fechamento das referidas barragens até as falaciosas e insuficientes alternativas que têm sido oferecidas à população desabrigada. A FEMEH, engrossando as fileiras contra a criminalização dos movimentos sociais, também repudia a atuação repressiva da polícia no local, que coage e ameaça os companheiros ocupantes, além de proibir a entrada de alimentos no acampamento.

Saudações,
 
FEMEH

Solidariedade: ocupação Utopia e Luta

27 de abril de 2010

Utopia e Luta na solidariedade estamos organizando para dar apoio.
ate a Vitória sempre

Hay hombres que luchan un día y son buenos.
Hay otros que luchan un año y son mejores
Hay quienes luchan muchos años, y son muy buenos.
Pero hay los que luchan toda la vida, esos los imprescindibles.
Bertolt Brecht
                        Utopia e Luta
                       <M><R><U>
       Movimento pela reorganização urbana.
         http://utopia-e-luta.blogspot.com
                   EDUARDO SOLARI

Repressão da PM impede entrada de comida no acampamento

27 de abril de 2010
INFORME n° 02 – 20.04.2010

Desde ontem [19.04.2010] a PM vem reprimindo as famílias, vítimas das enchentes, que ocuparam um terreno na Vila Curuçá, Zona Leste de São Paulo. A Polícia Militar vem tem adotado o método de tortura pscológica, revistando e constrangendo todas as pessoas que entram na ocupação e está impedindo a entrada de todo e qualquer alimento, inclusive para as crianças.
Neste momento a solidariedade é importante e necessária. Pedimos o apoio material, político e sobretudo jurídico. Nestge momento (09h55), a PM está multando e apreendendo todos os carros estacionados em frente ao acampamento.
O mesmo governo que fecha as comportas das barragens, inundando propositalmente a população, que derruba casas sem entregar novas casas no lugar, agora reprime quem não aceita ficar calado, e faz até mesmo as crianças passarem fome!
Desde domingo os moradores estão zelando pelo terreno, que estava cheio de lixo. As crianças iniciaram uma horta, cuidando com carinho de seu novo lar, um espaço onde podem brincar e crescer sem o risco do governo inundar suas casas. Infelizmente ainda não houve tempo para que a horta produza a alimentação necessária para as crianças. Portanto é inadmissível que a PM, sob o comando do governo, continue a impedir entrada de comida.
O PODER PÚBLICO, QUE DEVERIA GARANTIR O DIREITO A VIDA, JÁ RETIROU A MORADIA DAS FAMÍLIAS E AGORA ESTA IMPEDINDO O DIREITO FUNDAMENTAL À ALIMENTAÇÃO:
JOSÉ SERRA, GILBERTO KASSAB e agora ALBERTO GOLDMAN (novo governador) estão praticando TERRORISMO DE ESTADO!

Aqui estão as famílias vítimas das enchentes do governo Serra, que perderam tudo menos a coragem de lutar!

     – Uma casa por outra!
     – Minha casa é minha luta!
     – Reforma Urbana Já!

TERRA LIVRE – movimento popular do campo e da cidade
Regional São Paulo
http://www.terralivre.org
secretaria@terralivre.org

11-7379 8860 – Vagner
11-7362 2841 – Zélia
11-7487 2925 – Marcio

“Perderam tudo, menos a vontade de lutar”

27 de abril de 2010

OUTRAS PALAVRAS

  “Perderam tudo, menos a vontade de lutar”

Cem famílias de sem-teto ocuparam, na madrugada de sábado para domingo (17 e 18/4), um terreno no extremo Leste de São Paulo. A área integra a grande região do Pantanal Leste, na capital. Habitada por cera de 120 mil pessoas, tornou-se conhecida por ter sofrido as enchentes do rio Tietê, em dezembro — e por permanecer vários meses inundada (por águas e esgotos), devido ao descaso do governo do Estado. A charge de Angeli, acima, expõe o drama.

Depois de enfrentar a cheia (na qual vêem não apenas causas climáticas…), parte dos moradores está sendo removida de suas casas, em nome de uma obra que o Palácio dos Bandeirantes apresenta como “ambiental”. Trata-se da construção do Parque Linear da Várzea do Tietê, que deverá acompanhar o rio ao longo de 75 quilômetros, de suas nascentes (em Salesópolis, Grande São Paulo) até a Barragem da Penha, já no centro expandido da capital.

A marca “verde” do projeto se esvai quando examinadas algumas de suas características. Primeiro, a segregação social. Cerca de 10 mil pessoas estão a ponto de ser desalojadas; mas as empresas que se encontram na área, não. Ao contrário do que prevê o Estatuto das Cidades, não há nenhuma assistência aos removidos. Recebem apenas, em troca de suas casas, um “vale-aluguel” de dois mil reais — o que não é suficiente para mais de quatro meses de despesas com uma moradia muito modesta. A Defensoria Pública tem procurado, sem sucesso, exigir do governo respeito às normas legais.

Estranhamente, para um projeto “ecológico”, a obra foi iniciada sem apresentação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima). O exame de suas características fornece pistas sobre o motivo. Não se prevê nenhuma ação para o despoluir o rio, que continuará correndo insalubre e fétido no centro do “parque”. Além disso, a intenção do governo é construir, nas duas margens das águas, uma pista de asfalto. Apelidada de “Via-Parque”, ela parece ser, na verdade, um prolongamento da marginal do Tietê…

Em nome do “verde”, o projeto parece preservar e acentuar algumas das características mais desumanas do modelo de urbanização que prevalece no Brasil: sepultar a natureza e segregar as maiorias. A ocupação do terreno no Pantanal Leste é a resposta dos moradores. Eles não rejeitam a ideia do parque, mas exigem indenização justa para os desalojados (“uma casa por uma casa”) e a revisão das características do projeto, para torná-lo ambientalmente correto. Há mais detalhes sobre a iniciativa de sábado no site do movimento “Terra Livre” — que luta em favor da reforma agrária e urbana e articulou a ação. Solidariedade é importante, inclusive para reduzir os riscos de repressão policial. “Fazemos um chamado às pessoas e entidades comprometidas com as lutas populares. Precisamos de apoio material e político em mais esta luta. (…) Lutaremos até o fim por uma moradia digna e por uma sociedade mais justa e igualitária. Aqui estão as famílias vítimas das enchentes do governo Serra, que perderam tudo, menos a coragem de lutar”, diz o site.

Outras Palavras produziu, nas últimas semanas, uma longa reportagem sobre a luta dos moradores do Pantanal Leste. O texto denuncia um projeto de urbanização em estilo de apartheid. Mas ao longo do trabalho, os repórteres — o autor deste post e Carolina Gutierrez — testemunharam, também, sinais concretos da emergência social e política das periferias brasileiras.

Partes da reportagem serão publicadas, nos próximos dias, nas revistas Fórum e Retrato do Brasil, com as quais Outras Palavras mantém parceria. A íntegra sairá no aqui, em partes. O primeiro capítulo está abaixo:

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A voz dos invisíveis

Em 8 de fevereiro, o Pantanal Leste de São Paulo anuncia, diante da Prefeitura, que não aceita ser senzala

Desde o aniversário da cidade, 25 de janeiro, os bairros mais mobilizados no entorno do Alto Tietê estavam em luta. Jardim Pantanal e Chácara Três Meninas, onde é muito presente o MULP – Movimento pela Urbanização e Legalização do Pantanal –, haviam promovido o “fechamento sincrônico” de avenidas da região e de duas pistas da Rodovia Ayrton Senna. Queimaram pneus, cheiraram gás-pimenta, receberam, em tentativa de apaziguamento, a inédita visita do subprefeito de São Miguel Paulista.

Como ainda continuaram sob as águas, o jeito foi ir ao centro da cidade. Na manhã chuvosa de 8 de fevereiro, vinte ônibus cruzaram a Marginal e estacionaram, emblematicamente, na baixada do Parque D.Pedro II – onde, até a década de 1940, o Tietê serpenteava em seu leito natural e oferecia à cidade um porto de rio. Os quinhentos manifestantes subiram a ladeira general Carneiro e ganharam a rua Direita. Seu objetivo era a prefeitura, no viaduto do Chá.

Alagados dois meses após o início das chuvas, desejavam que emergissem, ao menos, suas histórias e desejos. A causa principal da inundação, sustentavam, não eram os destemperos climáticos – mas a forma como foram manejadas seis das barragens do Alto Tietê. Atingidas pela cheia, ao menos 4 mil famílias sofriam pressões ilegais do governo do Estado para deixar suas casas, que eram derrubadas de imediato. Pomposamente apresentada como “o maior do mundo em seu gênero”, o Parque Linear da Várzea do Tietê, obra que se pretendia construir na região, reforçava, ao invés de reverter, a segregação social e o divórcio com a natureza, que caracterizam as metrópoles brasileiras. Havia um projeto alternativo.

A recepção foi mista. Diante de palavras-de-ordem mais ousadas, a polícia usou, além do gás, os cassetetes. O coronel Orlando Taveiros, comandante da Polícia Militar no Centro, explicou, em novilíngua: foram “meios não-letais para dissuadir o pico de desordem”. Mas como o protesto não se dispersou, e estava acompanhado de parlamentares, o secretário de Relações Governamentais, Antonio Carlos Rizeque Malufe, recebeu uma comissão de moradores.

Não houve conquistas imediatas. Ao final do encontro, Ronaldo Delfino de Souza, um dos líderes do MULP, destacou: “Nem o secretário tinha ideia do que estava acontecendo nas áreas alagadas”. Mas definiu-se uma agenda de encontros, para tratar das reivindicações. A perspectiva destes momentos ajudou a catalisar o “Grupo dos 26” — uma articulação de associações de moradores, ONGs e movimentos dos bairros que enfrentam enchente e despejo.

O Pantanal Leste começava a superar as duas condições a que são relegados os pobres brasileiros. Já não era nem invisível, nem apenas vítima. Mas ao fazê-lo, também resgatava, das águas paradas da rotina, um debate cada vez mais necessário, num período em que o Estado voltou a ter condições de executar grandes projetos. Como superar o apartheid social e o sepultamento da natureza, as duas peculiaridades tenebrosas de nossas metrópoles? Qual o verdadeiro sentido de um discurso que, apresentando-se a favor do ambiente, humilha e silencia os sem-voz? De que forma as periferias, este sujeito social que emerge no inicio século 21, podem ser protagonistas de uma mudança?

TERRA LIVRE-SP: Informe do 1° dia de ocupação

20 de abril de 2010

Contra o descaso do poder público respondemos com mobilização!

Durante a madrugada, cerca de 100 famílias organizadas no TERRA LIVRE ocuparam um grande terreno na Vila Curuçá, Zona Leste de São Paulo. Essas famílias são vítimas das enchentes de dezembro de 2009 e janeiro de 2010, causadas pelo fechamento das comportas da Barragem da Penha e a abertura da barragem do Alto Tietê. Além de sofrerem com o alagamento intencional realizado pelo governo estadual, a prefeitura está derrubando as casas, deixando as famílias sem um lar.
Para dizer que não fez nada, o poder público realizou um decreto de interesso social em algumas áreas, que podem vir a ser desapropriadas para a construção de moradias para as vítimas das enchentes. O que prefeitura tem feito enquanto isso é conceder uma bolsa-aluguel de R$ 300,00 por 6 meses, que além de ser insuficiente, já está acabando e não há nenhuma outra alternativa para as famílias. Os prédios que o governos diz que irá construir serão vendidos às famílias e não entregues em troca das casas derrubadas. Como resposta ocupamos um dos terrenos onde o governo diz que irá levar as famílias.
A noite foi tranqüila e marcada por muito trabalho. Foram erguidos um barracão coletivo e a cozinha comunitária, além de alguns barracos. A PM só apareceu pela manhã para verificar a ocorrência. Pela manhã limpamos o terreno que tinha muito lixo, e iniciamos a construção dos barracos. Um grupo foi destacado para passar de casa em casa na vizinhança para entregar uma carta aberta e explicar às famílias o que estava ocorrendo. Os nossos novos vizinhos tem nos recebido muito bem e demonstrando grande apoio.
Contra o descaso do poder público respondemos com MOBILIZAÇÃO!

     – Minha casa é minha luta!
     – Uma casa por outra!
     – Reforma Urbana Já!


TERRA LIVRE – movimento popular do campo e da cidade
Regional São Paulo
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secretaria@terralivre.org

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Iniciada a construção do Galpão das Crianças

20 de abril de 2010

 comunidade se organiza para garantir uma vida digna àquelas que mais sofreram com as enchentes: as crianças

Primeiro vieram rumores… mãe, vamos ter que sair? O maior parque linear do mundo. Pai, eu vou poder brincar no parque? O governo do Estado de São Paulo vai realizar um grande empreendimento que vai beneficiar milhões de pessoas. As milhões de pessoas eu não conheço. Mas as que estão pagando o preço são essas:

– BARRAGEM DA PENHA: Fechada!
– BARRAGEM DO ALTO TIETÊ: Aberta!

Mãe, a água está subindo! As famílias que moram na várzea do Tietê ficaram 70 DIAS EMBAIXO D’ÁGUA.

Mãe, pra onde a gente vai? A prefeitura inicia a remoção de casas. Em troca, oferece para parte delas uma bolsa-aluguel de R$ 300,00 por 6 meses. Meu filho, o dinheiro é muito pouco… não dá pra alugar nada.

Na madrugada de 17 para 18 de abril, as famílias organizadas no movimento TERRA LIVRE, cansaram de esperar. As enchentes aconteceram a quatro meses, quase cinco. Quem aceitou a bolsa-aluguel em dezembro, vai ficar sem lar no mês que vem. Onde estão as moradias prometidas?
Iniciaram no domingo, dia 18, a construção da ciranda, espaço de educação e recreação, onde as crianças podem se desenvolver tranquilamente. As próprias crianças tem ajudado a criar um ambiente melhor. Recolheram mudas e plantas, e iniciaram uma horta, que estão zelando e protegendo.
Mãe, aqui é bom pra morar…